quarta-feira, 21 de março de 2012

Dia Mundial do Teatro

Hoje é dia Mundial do Teatro! Para comemorar, uma singelíssima homenagem à minha tragédia grega favorita: Medeia, de Eurípedes. 

Além de ser minha tragédia favorita, Medeia também está no título do meu blogue e já foi tema de um minicurso que lecionei aqui no Vale. Considero-a uma tragédia desafiadora pela força da narrativa que tem se mantido em diálogo com as paixões humanas desde que foi criada, em 431 a.C. até os dias de hoje. 

Para quem não conhece, Medeia, a protagonista que dá nome à tragédia, é esposa de Jasão, com quem tem filhos. A tragédia se inicia quando Medeia já foi abandonada pelo marido, pois ele vai se casar com Glauce, uma mulher mais jovem, filha de um rei e que pode oferecer um futuro digno aos filhos. Só que Medeia fez tudo que pôde por Jasão desde que o conheceu. Sendo uma feiticeira poderosa, ajudou-o a conseguir o velocino de ouro, que permitiu que ele assumisse o trono de Iolco na Tessália. Medeia mata inclusive seu próprio irmão a fim de que isso retarde a busca do pai dela, que não quer que ela fuja do reino com Jasão. Esses feitos, porém, não são presentificados na tragédia, mas sim rememorados  nela ou citados em fontes de outros autores. A mitologia clássica é muito rica, pois há diferentes versões as narrativas. 

 
Maria Callas como Medeia no filme de 1969 de Pier Paolo Pasolini 
(a imagem no topo do blogue é do mesmo filme) 


Arrasada com a decisão de Jasão e após muita luta com sua própria consciência, ela decide se vingar do marido e de sua futura esposa. Para isso, pede desculpas pelas atitudes desesperadas que têm tomado e envia como presente um véu e uma tiara para Glaucia, a noiva. Ao colocá-los na cabeça, o presente revela a verdadeira intenção de Medeia: véu e tiara estavam enfeitiçados e provocam uma morte terrível à pobre jovem apaixonada por Jasão. Sem o casamento real, resta a Jasão confrontar a esposa abandonada. E quando ele o faz, Medeia acabara de matar seus filhos, retirando de Jasão tudo que ele tinha: a perspectiva de uma vida nova casado com uma princesa e a chance de prosseguir com sua descendência. 

Medeia prestes a matar os filhos, de Eugène Delacroix, pintura de 1838, é uma das inúmeras representações sobre a protagonista da tragédia Medeia, de Eurípedes 


Se até agora Medeia pareceu cruel e ardilosa, ainda há um detalhe: ela não será punida. Quando Jasão a confronta e quer puni-la pelos crimes que cometeu, ela categoricamente avisa que ele nada conseguirá, pois o deus Sol (avô de Medeia) lhe enviara uma carro flamejante que a levará para Atenas, onde terá a proteção do rei Egeu, a quem no meio da narrativa fizera uma troca: o rei a protegeria de qualquer ataque e ela lhe ajudaria, com seus poderes de feiticeira, a ter filhos. 

Medeia nega o pedido de Jasão para enterrar os filhos: "Não é possível; são palavras vãs", diz ela, voando com os filhos mortos no carro flamejante, enquanto Jasão se lamenta com Zeus e o Corifeu encerra a tragédia.  


Renata Sorrah e José Mayer na encenação de Medeia (2004) no Rio de Janeiro 

Quem tiver interesse em ler a tragédia, indico as traduções de Mario da Gama Kury, publicada pela Jorge Zahar, e de Trajano Vieira, publicada pela Editora 34. Ambos tradutores excelentes, profundos conhecedores da língua e da cultura grega. 

                Tradução de Mario da Gama Kury                        Tradução de Trajano Vieira