domingo, 29 de janeiro de 2012

O BBB e sua estrutura dramática

Por engano, a postagem "O BBB e sua estrutura dramática" foi apagada. Vou retomá-la de forma um pouco reduzida, mas com o essencial do conteúdo. 

A postagem trata de similaridades entre o que conhecemos como estrutura dramática, isto é, a estrutura de ação, de organização das partes a fim de gerar um todo orgânico. Uso o termo emprestado das teorias teatrais adaptado ao propósito de divagar sobre esse polêmico programa de tevê. 

O BBB sempre começa em uma terça-feira e, via de regra, cumpre ciclos semanais. Na quarta há uma festa, na quinta acontece a prova do líder, na sexta ou no sábado tem-se a prova do anjo, no sábado à noite (sempre depois da prova do anjo) há outra festa, no domingo é formado o paredão, na segunda os "brothers" ficam por conta de aguardar a decisão do público, que virá na terça, completando o ciclo semanal. 

Pois bem, a estrutura dramática é aquela em que a tensão é criada de forma crescente e cuja construção visa ao clímax (momento máximo de tensão) e à resolução (desenlace, desfecho) da narrativa. A cada terça-feira, com um novo eliminado, inicia-se outro ciclo dramático. Assim, a festa da quarta funciona como um alívio dramático, após o momento tenso do dia anterior (em filmes, por exemplo, isso é facilmente verificável: após cenas de alta tensão, segue-se uma calma, amena). Na quinta, a ação é retomada com a prova do líder, que dá a um dos brothers o poder de escolher alguém para ir ao paredão. A tensão é gerada porque quem acompanha o programa sabe das preferências e especialmente dos desafetos de cada brother. Na sexta (ou no sábado) a prova do anjo aumenta essa tensão, porque o vencedor pode imunizar justamente quem o líder escolheu. Com esse quadro, a festa do sábado vem novamente amenizar as tensões, pois no domingo é o dia do clímax: a formação do paredão. Para garantir a tensão, a ordem no domingo é sempre a mesma: o anjo imuniza alguém, o líder indica qualquer brother não imunizado e depois todos votam para chegar ao segundo emparedado. Na terça, para fechar o ciclo, a resolução: Bial, que é uma espécie de coro eletrônico, conecta-se com a casa para informar ao grupo a decisão da pólis (o público votante). 

Há uma espécie de deus ex machina (elemento dramático que permite a intromissão divina na narrativa) no programa, o Big Fone. Trata-se de uma clara interferência da produção que, ao ligar para um telefone especial que há na casa (nesta edição é um orelhão). A mensagem telefônica pode se referir a várias coisas, todas elas com o objetivo de gerar aumento de tensão: quem atende pode ser escolhido para o paredão, pode imunizar alguém, pode ser obrigado a indicar alguém ao paredão e por aí vai. 

Nesta edição houve um caso em particular digno de nota: a eliminação de Daniel, no dia 16 de janeiro, um dia antes da data marcada para a primeira eliminação. O motivo foi um suposto abuso sexual praticado por ele contra uma das brothers. O caso está sendo investigado, os envolvidos já tiveram que depor, mas o fato é que as imagens chocaram o público e a comoção foi tanta que a própria produção do programa (olha o deus ex machina aí de novo) não quis pagar para ver: eliminou-o. 

Nota final: a estrutura dramática garante tensão, mas não dispensa a qualidade da narrativa.Quem viu de perto ou mesmo acompanhou de longe as edições em que os vencedores foram Jean Wyllys e Diego Alemão sabe bem o que é isso. Em ambas, esses dois tiveram que enfrentar brothers vilanescos capazes de armações variadas para eliminá-los do programa. No caso do BBB de Jean, por exemplo, havia uma alta dose de discriminação pelo fato de o brother (que seria o vencedor) ser homossexual. Isso é o que faz o BBB ter pouco de reality show (no sentido estrito) e muito mais de folhetim eletrônico: é uma novelinha diária em que os personagens-brothers conduzem suas ações a partir de um roteiro (no mínimo indicativo) cujo interesse maior é garantir a tensão entre os "heróis", como Bial gosta de chamá-los, embora seus feitos não se assemelhem sequer milesimamente ao de um Édipo orgulhoso, uma Antígona justiceira ou uma Medeia enfurecida... Tensão crescente e narrativa polêmica representam, juntas, sinônimo de muitos pontos no Ibope. Goste-se ou não do programa, o BBB é prova disso há doze anos. 


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